Por Janaína Garcia
Nos últimos dias, nos deparamos com uma onda de calor extremo, e muitos estados registraram temperatura máxima que superaram as médias históricas em todas as regiões do país. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o inverno deste ano foi um dos mais quentes desde 1961. Os riscos à saúde são imensos e se potencializam pela baixa umidade, sendo fundamental se proteger para minimizar seus efeitos. Nesse tipo de cenário um elemento é fundamental: a água.
A água é o elemento mais abundante no corpo humano; mais de 70% do nosso corpo é composto dela, que é essencial para mantermos em equilíbrio todas as funções de nossas células e órgãos. Quando falta água no nosso organismo, sentimos sede e aparecem alguns sintomas comuns de desidratação: boca seca, alterações no humor, aumento da fadiga, déficit de atenção, menor capacidade de coordenação motora e de memória. Caso a desidratação persista é possível que se desenvolvam outros sintomas mais intensos como a tontura, fraqueza, dor de cabeça, confusão mental, perda de consciência, queda na pressão arterial e aumento da pulsação.
Precisamos dar atenção especial às pessoas idosas, que muitas vezes se esquecem de beber água ao longo do dia e são mais acometidas pelos efeitos do calor, com mulheres grávidas e no puerpério (amamentação), crianças, praticantes de exercícios físicos e profissionais de áreas de risco para calor excessivo (por exemplo, trabalhadores de mineração, cortadores de cana-de-açúcar). Nos casos mais graves, a indicação é buscar atendimento nas unidades básicas de saúde, que, em determinadas situações, podem encaminhar a pessoa para serviços de maior complexidade.
Danos renais associados ao estresse térmico
Como nefrologista, vejo com grande preocupação as alterações climáticas extremas nos últimos anos, uma vez que o rim tem um papel crítico na nossa proteção contra a desidratação. Há evidências crescentes de que o desenvolvimento de doença crônica pode resultar de lesões renais agudas repetidas causadas por insolação subclínica ou clínica. Especificamente, lesões renais agudas repetidas foram recentemente relatadas em turnos de trabalho de trabalhadores do setor de cana-de-açúcar. A prevalência de pedras nos rins (nefrolitíase) está aumentando e acredita-se que elas resultam do aumento das temperaturas associadas às mudanças climáticas. As infecções urinárias também podem estar relacionadas com a hidratação abaixo do recomendado e potencialmente afetadas pelas alterações climáticas.
A apresentação mais grave do estresse térmico é a insolação, que pode resultar em distúrbios eletrolíticos graves e lesão renal aguda e crônica. No entanto, níveis menores de estresse térmico também têm múltiplos efeitos, incluindo exacerbação da doença renal e precipitação de eventos cardiovasculares em indivíduos mais suscetíveis. Recentemente, ocorreram múltiplas epidemias de doença renal crônica de etiologia incerta em várias regiões do mundo, por exemplo Mesoamérica, Sri Lanka, Índia e Tailândia. Há cada vez mais provas de que as alterações climáticas e o estresse térmico podem contribuir para essas condições, embora outras causas, incluindo toxinas, também possam estar envolvidas.
Água vs. refrigerante: como eles se comparam?
Os refrigerantes, apesar de uma grande quantidade de água em sua composição, estão carregados de açúcar e outros corantes e substâncias prejudiciais à saúde do nosso corpo. entre esses açúcares, os refrigerantes contêm frutose em sua composição, que resulta em lesão renal tubular, inflamação e estresse oxidativo quando metabolizado pelos rins. Estudos recentes sugerem que os refrigerantes podem também aumentar o risco de lesão renal aguda e crônica.
Algumas variedades de refrigerante contêm cafeína, que tem sido associada a um leve efeito diurético. Em outras palavras, você faz mais xixi e perde mais líquidos pela urina, o que contribui para desidratação.
Mas quais os sinais de que não bebemos água suficiente?
A ingestão de água, em geral, está correlacionada à sede e devemos lembrar que a cor da urina é também um importante referencial do nosso status de hidratação. O ideal é que a urina apresente sua coloração transparente ou amarelo claro. Não existe uma recomendação oficial sobre a quantidade de água a ser ingerida diariamente. Mas caso a pessoa necessite uma orientação mais adequada para o cálculo da necessidade hídrica, basta calcular uma média de 35 ml de água por Kg de peso.
Exemplo: Peso (70 kg) x 35 = 2450 ml.
Ou seja, uma pessoa que pesa 70 kg, necessita cerca de 2,5 litros de água ao dia.
Em casos mais específicos, com limitação para o consumo, a ingestão de água deve ser orientada por um médico. Pessoas que têm doença renal crônica avançada e insuficiência cardíaca, por exemplo, precisam de uma avaliação individualizada sobre a quantidade de água a ser ingerida.
Quais as principais ações para se proteger nesses dias de calor intenso?
As altas temperaturas serão uma tendência no futuro? De acordo com os climatologistas, sim. Com o aquecimento da Terra, eventos climáticos extremos – como essas ondas de calor, ciclones, inundações e outras tragédias naturais – serão cada vez mais frequentes. Se o mundo não diminuir as ações que contribuem para o aquecimento global, alterações do clima, como as ondas de calor, serão mais intensas e mais duradouras.
E como proceder nesse cenário? O mais importante é manter a hidratação em dia, se possível tomando mais água que o habitual. Além da água, são recomendados sucos naturais, chás e água de coco. Uma boa dica é carregar uma garrafa para reposição de líquidos quando estiver fora de casa. Não esquecer também dos hidratantes labiais e cremes corporais para evitar o ressecamento da boca e da pele. Nos casos de calor e secura extrema, a sugestão é usar soro fisiológico para hidratar os olhos e as narinas.
Quase todas as águas vendidas no mercado e mesmo a do filtro doméstico são uma opção melhor do que bebidas gaseificadas. Embora os refrigerantes sejam tecnicamente hidratantes, é muito melhor escolher uma bebida mais saudável que o ajude a repor os líquidos do corpo e suas metas gerais de saúde. O mesmo vale para a água com gás industrializada; ela usa o mesmo processo dos refrigerantes, ou seja, retira da bebida o oxigênio e o substitui por gás carbônico.
Considerando que essas mudanças climáticas serão recorrentes, é de extrema importância a incorporação do hábito de beber água em nosso dia a dia para minimizar os riscos associados à desidratação em nosso organismo e, com isso, possivelmente reduzir os riscos de litíase renal, infecção urinária e doença renal crônica. Afinal, nada mata a sede como um bom copo d’água.