Por Olívia Podestá
Comer e sentir prazer ao longo da vida é parte fundamental da experiência humana. Desfrutar da comida contribui para uma melhor qualidade de vida em todas as suas fases, do início até o seu final. Alimentos não são apenas uma fonte de nutrição para o corpo: são também uma vivência sensorial, social e de amor. Comer é troca e construção de vínculos; é cuidado.
Saborear alimentos que trazem prazer, memórias afetivas e momentos vividos pode ser um tempo de alegria e conforto, daqueles que “aquecem a alma”, especialmente nas fases mais delicadas da vida. Desfrutar a comida pode ser uma maneira de reviver lembranças especiais, receitas de família, celebrações e encontros. A ideia de comfort food vem exatamente daí: o aconchego, as memórias evocadas, o cuidado e o bem-estar que a alimentação pode trazer, inclusive no final da vida.
Comer não envolve apenas o paladar, mas também estimula os outros sentidos, como o olfato e a visão. A percepção dos aromas e das cores dos alimentos pode ser sensorialmente enriquecedora e inesquecível tanto para quem experimenta quanto para quem compartilha.
À medida que envelhecemos, ocorrem a aceitação e o entendimento das mudanças, dos nossos gostos, das nossas preferências, da consistência e dos volumes de aceitação alimentar. A capacidade de adaptar-se a essas mudanças e continuar desfrutando dos alimentos, de acordo com as necessidades do corpo, é importante para o bem-estar tanto pessoal quanto da família que cuida. E isso é possível! Pode não ser algo simples… mas é factível.
A alimentação na fase final da vida, período próximo à morte, é uma questão complexa e muito sensível. Nas fases avançadas de doenças terminais, as observações sobre alimentação podem variar e devem levar em consideração pontos importantes, como respeitar os desejos e preferências do paciente. Algumas pessoas podem desejar continuar comendo normalmente, enquanto outras podem preferir não se alimentar; sempre deve ser priorizada a qualidade de vida do paciente em questão, do indivíduo que está diante da gente, daquele ser humano. Alguns pacientes podem ter a alimentação como uma fonte de prazer; mas em outros casos, a ingestão de alimentos pode gerar desconforto, por isso, as decisões sobre a alimentação devem ser tomadas com base no que proporciona mais bem-estar à pessoa.
Alimentar pessoas que estão no fim da vida é um baita exercício de altruísmo e cuidado; vivenciar a alimentação respeitando “a quantidade que a pessoa quiser”, “o que ela quiser”, “se ela quiser”, “como ela quiser”, “no horário que ela quiser” ao invés de calcular de densidade calórica, quantidade de nutrientes, frequência e regularidade que muitas vezes impomos ao paciente não é tarefa simples. Entretanto, pode ser uma maneira humana de compartilhar conforto, carinho e bem-estar, especialmente para quem está sob nossos cuidados. E essa adaptação ao cenário vigente é importante: pode ser que, no final da vida, por exemplo, haja imensa satisfação em saborear um prato de batatinha frita junto de quem se ama, enquanto que para a maioria de nós comer frituras não é a melhor opção de ingesta alimentar. E está tudo bem em entender isso!
Em alguns casos, pode ser necessário fornecer suporte nutricional artificial como uma via alternativa de alimentação – seja enteral (por tubo) ou parenteral (por via intravenosa). Ainda assim, essas decisões devem ser tomadas em conjunto entre profissionais de saúde capacitados, familiares e, principalmente, respeitando as vontades do paciente. O apoio da família e dos cuidadores é fundamental durante esse período. Conversas francas e honestas sobre os desejos do paciente, levando em conta suas preferências, podem ajudar na tomada de decisões difíceis. E sempre vale lembrar: o fato de o paciente estar recebendo suporte nutricional artificial não impossibilita a prática de dieta de conforto, como experimentar novos sabores, comer e sentir prazer pela via oral.
Como tudo relacionado ao fim de vida, é fundamental abordar a alimentação nessa fase com sensibilidade e compaixão, garantindo que as escolhas sejam feitas em benefício do paciente e de acordo com suas necessidades físicas, emocionais e espirituais. Cada situação é única, e é importante envolver uma equipe de profissionais de saúde para fornecer orientações e apoio durante esse período desafiador.
Lembre-se de que o prazer de comer está entrelaçado com muitos aspectos da vida. No seu dia a dia, mantenha uma abordagem equilibrada e consciente em relação à comida, buscando não apenas o prazer imediato, mas também visando a boa saúde a longo prazo. Se você tiver preocupações específicas ou necessidades dietéticas, consultar um nutricionista pode ser útil para criar um plano alimentar feito sob medida para você, que combine ao mesmo tempo prazer e saúde.