No dia de combate ao estresse, cuide dele e da sua saúde mental

22 de setembro, 2023
18:08

Por Regina Chamon

Cansaço, fadiga, falta de concentração, dificuldade de lembrar, impaciência. Corpo exausto e cabeça acelerada. Ansiedade, depressão. Todos os dias recebo no consultório pessoas afetadas, física ou emocionalmente, pelo estresse, e eu mesma me sinto assim com frequência. Uma boa parte das vezes, não conseguimos perceber o que é que está “atrapalhando” a nossa vida. Fica a sensação de que falta algo funcionando direito dentro da gente. Talvez pudéssemos olhar para o que sobra: estresse!

Antes de mais nada, queria te contar que o estresse faz parte da nossa vida. Nosso organismo desenvolveu, ao longo de milhares de anos, um jeito de nos proteger: a resposta de estresse. Sempre que nos sentimos ameaçados ou desafiados por qualquer situação, seja ela física ou emocional, real ou imaginária, instantaneamente ativamos uma parte do cérebro chamada amígdala (não é aquela amígdala da garganta, gente!), fazendo com que o corpo se prepare para lutar ou fugir.

Você pode sentir o coração acelerado, a mão suando, a respiração mais ofegante, os músculos tensos. Tem mais oxigênio e glicose correndo nas nossas veias e a mente fica alerta. Esse comportamento é ótimo quando temos que lidar com situações pontuais como prazos no trabalho, um resfriado, falar em público ou até mesmo fugir de um assalto. Quando essa resposta não desliga ou quando ela é ligada muitas vezes ao dia, o estresse passa a ser tóxico, com uma série de efeitos nada bacanas na nossa saúde.

Só para dar uma ideia de como o estresse crônico pode aparecer no seu corpo, esses são alguns sintomas:

– físicos: tensão no pescoço ou ombros, dor nas costas, alteração do sono, cansaço ou fadiga, diminuição da libido;

– emocionais: choro fácil, irritabilidade, temperamento explosivo, ansiedade, sensação de solidão;

– comportamentais: ranger os dentes, ser muito crítico (consigo e com os outros), ruminação de pensamentos, compulsão por comidas ricas em açúcar, gordura, ou aumento do consumo de álcool ou café;

– mentais: alteração na memória, dificuldade de aprender coisas novas, de manejar o tempo, de pensar com clareza ou de se concentrar.

É bem capaz que você tenha se reconhecido nesses sintomas ou tenha notado alguém bem próximo a você com eles (aproveite e mande este texto!)

Vira e mexe alguém me procura querendo acabar com o estresse. Deus me livre disso acontecer! Precisamos do estresse para sobreviver; esse tipo de estresse que dura pouco tempo e nos ajuda a lidar com os desafios. Sem estresse nenhum, procrastinamos e temos pouca motivação. Um pouquinho de estresse é bom. O que precisamos, com toda certeza, é diminuir a quantidade de estresse crônico no cotidiano.

Para isso, quero te contar três pilares que aprendi com o cardiologista Herbert Benson, da escola de medicina de Harvard, um dos primeiros pesquisadores sobre os benefícios do relaxamento. Reconhecer o estresse, relaxar mais e melhor e tornar-se mais adaptável ao imprevisível.

O primeiro pilar para lidar com o estresse é saber como ele se apresenta no seu corpo e quais são os fatores que te deixam estressado. Isso é muito individual e muda de pessoa para pessoa. Que tal fazer uma lista?

Já sobre o segundo pilar, preciso te contar uma coisa (vou falar bem baixinho para você não se assustar): nós desaprendemos a relaxar! É isso mesmo! Andamos tão acelerados que nosso sistema não consegue mais encontrar com facilidade o caminho do descanso profundo. Então é preciso um treino diário de pausa, para que o organismo se reorganize. Vale o que você gosta ou o que você sente que precisa. Arte, meditação, yoga, passeio no parque, uma respiração calma e lenta. Você, melhor do que eu, sabe o que te traz a sensação de segurança. Afinal, é ela que nos acalma.

Nosso terceiro pilar são estratégias de adaptação para que possamos lidar com o estresse quando não podemos fugir dele. Aqui, a lógica é cultivar uma base equilibrada, mental e física, que nos permita navegar com menos agitação pelos períodos de incerteza. Comida de verdade, movimento, sono de qualidade, rede de apoio, terapia, espiritualidade. Corpo, mente e alma juntos na jornada.

Não tem receita pronta para lidar melhor com o estresse. Dentro de cada um desses pilares, tem o que funciona para você. Só uma coisa é certa: em todos os dias da sua vida haverá estresse, então em todos os dias da sua vida também precisa haver tempo para relaxar. Não apenas porque a gente precisa, mas porque é gostoso e a gente merece!

Se você quiser se aprofundar nesse assunto, ou conhecer melhor os dados citados nesse texto:

Para ler:

As coisas que você só vê quando desacelera, de Haemin Sunim, Editora Sextante

Lean Out: A Meditation on the Madness of Modern Life, de Tara Henley, Random House

10% mais feliz, de Dan Harris, Editora Sextante.

Burnout: O segredo para romper com o ciclo de estresse, de Emily Nagoski & Amelia Nagoski, Editora BestSeller.

Para assistir:

Stressed (Stressed – EUA – 2019)