Por Marcos Vilaça
O Brasil é referência na área e conta com o maior sistema público de transplantes do mundo. Segundo o Ministério da Saúde, somos o 2º país que mais realiza transplantes, ficando atrás somente dos EUA. Além disso, o SUS garante aos pacientes assistência integral e gratuita, incluindo exames preparatórios, acompanhamento pré- e pós-cirurgia, além de medicação. Porém, apesar dos números, a fila cresce a cada dia e, atualmente, há cerca de 65 mil pessoas aguardando por um órgão.
Para além do procedimento cirúrgico, que por si só é algo complexo e envolve riscos, o transplante envolve muitas e profundas questões. E é nesse ponto que se torna necessário o cuidado integral, não somente ao paciente, mas também aos seus familiares.
Esse cuidado integral acontece a partir do trabalho de uma equipe multidisciplinar, envolvendo a participação de psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e médicos. Atualmente, além de psicólogo clínico e hospitalar, faço parte de uma dessas equipes multidisciplinares, acompanhando pacientes e familiares que aguardam por um transplante. É um trabalho que me sensibiliza e enche de orgulho, mas ao mesmo tempo exige-me um preparo e um cuidado responsável com este que é um ofício tão importante.
E quando o assunto é sensibilidade e cuidado, é necessário falar sobre as emoções. Tenho testemunhado diariamente pacientes e familiares que chegam com muitas expectativas quanto ao transplante. Essa chegada é marcada por uma mistura de sentimentos, em que há medo, ansiedade e também a esperança de continuar vivendo! Se existe o adoecimento, também existe a vida pulsando, aguardando para ser mais vivida! Há pessoas para continuar amando e também sonhos ainda não realizados!
O momento da notícia da necessidade do transplante escancara a possibilidade real da finitude e faz pulsar ao mesmo tempo toda essa mistura de sentimentos, que precisam ser escutados e acolhidos. E é por tudo isso que me sinto privilegiado e, ao mesmo tempo, tão responsável por cuidar de cada pessoa, cada sonho, cada amor, cada medo, cada ansiedade, cada esperança…
Como psicólogo, e parte de uma grande equipe, aposto todos os dias no poder de ações conjuntas, no cuidado de pessoas e suas famílias à espera de um órgão. Como ser humano, acredito que há muito o que TODOS podemos fazer no nosso dia a dia, com amigos, familiares, comunidades, associações etc.
Uma dessas ações é o diálogo aberto e honesto sobre a doação e o seu desejo de ser um doador. Essa conversa pode ser realizada no nosso dia a dia com nossos familiares, deixando claro o desejo de ser um doador. Falar sobre doação de órgãos para quem amamos é uma forma de garantir cuidado das pessoas que esperam pelo transplante, uma vez que quando o diálogo circula, novas oportunidades de doação acontecem e mais pessoas receberão o benefício de seguir vivendo.
Estamos no Setembro Verde, mês dedicado à conscientização e incentivo à doação de órgãos. Não vamos nos limitar a falar sobre o assunto apenas durante um mês, mas façamos com que todos os dias sejam um Setembro Verde! Uma oportunidade para expandirmos a ideia de que muitas vidas cabem em um “sim”. Por tudo isso eu digo: sou doador. Vamos comigo nesse caminho de esperança e amor?