Por Alyssa Miranda
Outubro está aí e logo a onda rosa do mês vai passar. Na verdade, por que restringir a prevenção do câncer de mama a um único mês? Afinal, temos o ano inteiro disponível para ser todinho pintado de rosa, com todas as nuances que a cor permitir, uma vez que a conscientização e o cuidado devem se dar todos os dias, não somente em 1/12 do ano.
O câncer de mama feminino é o mais incidente em todas as regiões brasileiras. O número estimado de casos novos no Brasil, para o triênio de 2023 a 2025, é de 73.610, correspondendo a um risco estimado de 66,54 casos novos a cada 100 mil mulheres.
Esse aumento de incidência está associado ao envelhecimento populacional, às mudanças no comportamento e no estilo de vida e ao diagnóstico somado à falta de informação e acesso ao rastreamento mamográfico, recomendado no Brasil para mulheres de 45 a 69 anos.
O fator de risco mais importante é a idade acima de 50 anos (ok, quanto mais o tempo passa, mais risco temos!). Outros fatores de risco estão associados a condições hormonais ou reprodutivas como nuliparidade (nunca ter engravidado), gravidez tardia, tempo de amamentação menor que 6 meses; a fatores comportamentais como má alimentação, obesidade, ingestão de bebidas alcoólicas, sedentarismo; a fatores ocupacionais, como trabalho noturno; e às radiações, por exemplo raios X e gama, além de condições genéticas e hereditárias (de 5 a 10% dos casos).
A prevenção do câncer de mama é, portanto, um conjunto de medidas que nos ajudam a reduzir os fatores de risco para a doença. Fatores hereditários ou associados ao ciclo reprodutivo da mulher são, na maioria das vezes, não modificáveis. Já os fatores comportamentais como obesidade, sedentarismo, má alimentação e uso excessivo de álcool são passíveis de serem modificados. Se olharmos esses números com atenção devida, a gente entende que 5 a 10% dos casos estarão na conta de fatores genéticos e hereditários, com os quais a gente não negocia ou tem poder sobre. Entretanto, a esmagadora maioria dos casos está associada a práticas e escolhas que visam vida saudável e diminuição de riscos: e sobre estes, temos poder de escolha e de fazer.
A estratégia do diagnóstico precoce é uma forma de detectar a doença em estágios menos avançados, além de educar a população para o reconhecimento de sinais e sintomas do câncer de mama e facilitar o acesso aos centros de investigação. Desde 1990, estudos clínicos demonstraram que o autoexame não modifica a mortalidade pela doença, no entanto, é uma forma consciente de estar atenta para a saúde das mamas. Deve ser realizado sem periodicidade e técnica específica, de preferência em períodos fora do ciclo menstrual, momento em que naturalmente as mamas sofrem alterações hormonais. A orientação é que a mulher possa identificar sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama (presença de nódulo, secreção sanguinolenta pelo mamilo e/ou retração, aumento da mama e mudanças na pele – aspecto de casca de laranja, linfonodos axilares) e agir. Sim, agir! A partir do momento que observar algo diferente no autoexame, procure ajuda médica: isso muda a história!
Quando pensamos em rastreamento, a mamografia é o melhor exame e auxilia no diagnóstico precoce quando realizada em mulheres assintomáticas, numa faixa etária em que haja um balanço favorável entre benefícios e riscos dessa prática. É recomendada para mulheres acima de 45 anos e deve ser realizada anualmente. Para mulheres com menos de 45 anos, a indicação de exames de rastreio deve ser recomendada de forma individualizada levando-se em conta a história familiar e a presença de mutações e síndromes genéticas hereditárias. As mais comumente associadas são as dos genes BRCA 1 e 2 (síndrome de câncer de mama e ovário hereditários), que representam de 30 a 50% dos casos.
O câncer de mama tem cura, se diagnosticado de forma precoce. A prevenção é diária e depende da gente.