Por Mariana Soares
Muita gente me pergunta por que virei vegana, e minha primeira resposta costumava ser que foi pelos animais, mas hoje tem mais coisas por trás. Desde pequena eu sempre fui boa para comer, adorava imitar os pratos de salada com farofa que meu avô comia, e minha comida preferida até hoje é arroz, feijão e pimenta. Se não tivesse carne não sentia falta. Mas, como todo mundo, eu aprendi a gostar do sabor do churrasco e da moqueca de peixe. Nosso paladar é formado na introdução alimentar quando ainda somos bebês. Há quem diga que até mesmo antes disso, porém nada impede que você aprenda novos sabores.
O termo veganismo foi criado em 1944 na Inglaterra e teve como motivação os maus-tratos aos animais e a preocupação com a saúde humana e do meio ambiente. É um estilo de vida pautado, dentro do possível, na exclusão de produtos que geram sofrimento animal e isso inclui alimentos, vestuário, cosméticos, transporte e entretenimento. Sim, nós veganos não frequentamos zoológicos e espetáculos que tenham atrações com animais. Falei “dentro do possível”, porque existe um questionamento sobre medicamentos e vacinas visto que, em sua maioria, são testados em animais e a resposta é que sim, apesar de fazermos uso, advogamos que novas tecnologias possam ser criadas (e isso é possível e já existe) para que os animais possam ser libertados dos testes da indústria farmacêutica. Existe a dúvida sobre a diferença do veganismo para o vegetarianismo: no primeiro, não se consome nenhum produto animal; no segundo, pode haver o consumo de leite e derivados, ovos, mel, e o uso de produtos feitos de couro, por exemplo.
Sobre a alimentação vegana, as perguntas que ouço com frequência são: de onde vem as proteínas que você consome? Você não se sente fraca? Mas se precisa repor vitamina B12, então essa dieta não faz bem, não é mesmo? E é usando essas perguntas como base que vou tentar desmistificar a alimentação baseada em plantas.
Começando pelas proteínas, carnes e ovos as contêm assim como feijões, grão de bico, lentilhas, soja e outras leguminosas. Quer um exemplo? 70g de carne bovina contém 23g de proteína, 250g de feijão cozido tem os mesmos 23g de proteína. Não é preciso comer essa quantidade toda de proteína por refeição, na verdade, consumimos muito mais proteínas no dia a dia do que precisamos realmente.
Com relação às deficiências nutricionais, principalmente ferro e vitamina B12, sabemos que não é exclusividade de quem consome uma alimentação vegana. Há trabalhos científicos mostrando que até 50% dos onívoros têm deficiência de vitamina B12 e necessitam fazer reposição. E, para surpresa de muitos, a vitamina B12 não é produzida pelos animais, ela é ingerida por eles e, atualmente, suplementada a eles! Quem produz a vitamina B12 são as bactérias do solo, porém, no mundo sanitizado que vivemos, acabamos eliminando essas bactérias dos alimentos. Sendo assim, o que nós veganos fazemos é eliminar os atravessadores (os animais) e fazer a suplementação direta.
Outro motivo de preocupação é o ferro. Em uma comparação simples, 50g de feijão preto cru tem 3,25mg de ferro, já 50g de carne magra crua tem 0,64mg de ferro. Outros alimentos que têm ferro em abundância são aveia, quinoa em grãos, ervilha, lentilha e muitos outros. Você ainda acha que a carne é a melhor fonte de ferro e vitamina B12?!
Um mito que precisa ser quebrado é sobre o custo da alimentação baseada em plantas. Assim como na alimentação onívora, se basearmos a alimentação em alimentos ultraprocessados e de grandes marcas, a conta é alta, mas não é esse tipo de alimentação que deve ser incentivada. Ir à feira e ao hortifruti é a recomendação para todos! Um movimento que tem crescido é o de desembalar menos e descascar mais, trazendo a conscientização que a alimentação industrializada deve ser restringida ao mínimo de consumo possível. Quando alguém me traz esse questionamento eu respondo com outra pergunta: “o que você comeu no almoço hoje?” Normalmente, a resposta é arroz, feijão, salada, um legume e uma carne e eu respondo que também comi o mesmo, exceto pela carne, que substituí por mais alguns legumes, e que certamente saíram mais baratos que a carne consumida.
A base da alimentação brasileira já faz a melhor combinação nutricional que existe: arroz e feijão! Quando complementamos com legumes, salada e uma fruta cítrica de sobremesa, temos todos os nutrientes que uma pessoa precisa.
Falando sobre saúde, os alimentos vegetais oferecem uma quantidade enorme de compostos antioxidantes e anti-inflamatórios que previnem o envelhecimento precoce das células, doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer. Agem também na microbiota intestinal, hoje reconhecida como superimportante para o funcionamento adequado do organismo. Além disso, ao diminuir o consumo de carne, você diminuirá o consumo de gordura saturada, o vilão do sistema cardiovascular. Sendo assim, reduzirá as chances de infarto e acidente vascular encefálico (AVC). Alguns estudos já conectam o consumo de carne com o câncer, principalmente os cânceres de trato gastrointestinal. O tema alimentação vegana e prevenção de doenças tem crescido muito, principalmente em publicações científicas. Espero que daqui a alguns anos seja tema central das discussões na área de saúde.
A alimentação vegana também impacta de forma significativa a saúde do planeta. O aquecimento global é uma realidade e é causado principalmente pela emissão dos gases de efeito estufa. O desmatamento e as queimadas de áreas que serão destinadas para o pasto e monoculturas para ração usados na pecuária são os principais causadores dessa emissão. Além disso, a pecuária é responsável pela contaminação e alto uso das águas, diminuição de biodiversidade e insegurança alimentar de boa parte da população mundial. No Brasil, hoje existe mais gado que pessoas e mesmo assim 1 em cada 10 brasileiros passa por insegurança alimentar, números tristes de serem lidos.
Triste também é a realidade dos animais criados para abate, produção de leite e vestuário. Vivem confinados em lugares sem higienização adequada, são transportados sem nenhuma segurança e cuidado mínimo para lugares que cairiam como uma luva em qualquer filme de terror, além de serem privados de sua liberdade. Sabemos que as vacas, como nós, têm melhores amigas, que os porcos têm o mesmo nível de inteligência do seu cachorrinho de estimação, que as galinhas criam laços com seus cuidadores e que os peixes podem aprender truques. Todos eles são seres sencientes, que sentem medo, dor, alegria e amor. Eles são capazes de expressar sentimentos, assim como nós.
Hoje eu te desafio a dar uma chance aos novos sabores que não causam sofrimento animal. Escolha dar uma chance para nosso planeta se recuperar de tudo que temos feito a ele. Escolha sair da zona de conforto e melhorar sua qualidade de vida. Escolha a vida sempre!