Cuida

Diante da imensidão

Por Giovanna Zanatta

Hoje vi uma tartaruga marinha recém-nascida.

Achei por acaso, andando na praia. E, na hora, me senti privilegiada por esse encontro que há muito tempo desejei.

Li que os ovos são colocados na areia a meio metro de profundidade. Como é possível a tartaruga recém sair de dentro do ovo e já escalar meio metro de areia até chegar à superfície?

E como ela sabe que o mar está para a frente e não para trás para não pegar o caminho contrário ao que deseja?

Achei impressionante tanta sabedoria contida dentro de um ser tão pequeno e que acaba de chegar a este mundo.

Fiquei um tempo olhando para a tartaruguinha, sôfrega, tentando se impulsionar para o mar com a força de suas pequenas nadadeiras. Ela, tão pequenininha, desamparada diante daquela imensidão de mar à sua frente. O mar é enorme, infinito, profundo e cheio de perigos. E ela não ocupa nem a palma da minha mão. Como será que se sente sabendo que é este seu destino a enfrentar?

Depois de me angustiar com isso tudo mais do que ela própria, notei que a tartaruguinha estava perdendo as forças. Demonstrava cansaço extremo, e a respiração gaspeando não me deixava dúvidas de que seu fim estava próximo.

Um caiçara passando e vendo a cena, já bem mais acostumado aos desígnios da natureza do que eu, sem pesar nenhum apenas disse:

– Esta não vai vingar. Se ela está aí sozinha, a essa hora, é porque não teve forças suficientes para chegar ao mar. É assim que é.

Mas eu, que já ajudei tantos pacientes a partirem em paz dessa vida, como poderia abandonar esse pequeno ser sozinho em suas respirações finais? Não seria melhor, sabendo que vai partir, ao menos ter alguém ao lado para honrar sua (mesmo que curta) trajetória e mostrar que se importa com você?

Sei que talvez seja humanidade demais depositada a uma tartaruga, mas está dentro de mim e é impossível não pensar em tudo isso vendo essa cena tão singela mas também tão intensa.

Então, sentei-me ao lado dela e fiquei esperando. Até que o mar a levou. Não do jeito que eu gostaria que ela tivesse sido levada, ágil e serelepe batendo suas pequenas barbatanas para desbravar o mundo. Mesmo assim, ela conheceu o azul. Um azul tão profundo que fechou os olhos e dormiu.

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