Cuida

Sejamos gratos!

Por Alessandro Kerkovsky

Meu trabalho me permite observar o outro, geralmente em um dos momentos mais difíceis da vida. Acho uma honra poder presenciar transformações e pequenas vitórias diárias. 

Não se vence a guerra sem dias de luta ou derrotas em alguns momentos, mas da mesma forma como caímos, também existem dias em que levantamos, abastecidos de novas esperanças.

No estacionamento cheio de carros, um se destacava. Não pela marca, pela cor ou pelo modelo, mas pelo que nele estava escrito: “Minha última quimioterapia. Buzine!”.

Consegui imaginar essa mulher acordando para um novo dia, se arrumando, ansiosa para o fim de uma etapa nada fácil. Imaginei se ela tinha uma família presente, se os amigos estavam próximos durante esse período. Também imaginei em quantos sonhos ela teve que dar uma pausa até chegar aqui. Pensei no medo que afligiu seu coração em  muitos momentos. Mesmo assim, ela prosseguiu.

Pensei ainda que, no trajeto já familiar de casa até o hospital, é possível que ela tenha ouvido muitas buzinas de estranhos, que nunca a viram e podem nunca conhecê-la, mas devem ter se sentido tocados por aquele cartaz e as bolas coloridas, que certamente, em plena quinta-feira, trouxeram um novo sentido para esse dia.

Não sei o nome dela, nem de onde veio, mas posso dizer que também fui um dos estranhos impactados pela gratidão cheia de sentido para sua vida. A ação dela certamente me envergonhou por minha ingratidão em reconhecer minhas próprias pequenas vitórias.

Sejamos gratos! Sempre. ❤

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