Cuida

GQC – Marlise Carvalho

Não sei exatamente onde se inicia a trajetória do cuidar. Eu acho que se formou em mim em uma infância observacional sobre a minha mãe e o cuidar dela, não especificamente comigo ou minha irmã, mas com as pessoas à nossa volta.

Quando escolhi ser fisioterapeuta talvez fosse um reflexo disso; cuidar das pessoas e ajudá-las a andar de novo parecia incrível. Passei a maior parte da minha vida profissional em hospitais e o dia a dia de entrar e sair de quartos nunca foi só sobre ensinar alguém a andar de novo. É muito além.

É sobre respeitar aquele tempo e aquele processo. É deixar aquela rotina mais leve e esperançosa. É cuidar.

Na pediatria é igual, mas diferente. Eu chegava lá com um skate ou uma bola. Já levei até bicicleta! Ia passando pelo corredor e vendo os olhinhos me seguirem. Já teve futebol no corredor da UTI, uma bola no pé e um oxímetro no dedo. E deu certo! Encurtava o tempo deles ali e apressava essa volta pra casa. A gente cuidava mesmo, de tudo, até do gol.

Eu nunca separei a fisioterapia dessas ‘brincadeiras de bola’. Tá tudo junto e misturado. Cuidar é um todo.

Substituir uma cama por uma rede não é nada além de cuidado, cuidado com aquela pessoa que dormiu a vida inteira em uma rede e agora, na UTI, ainda precisa da rede. Cuidar é fazer o que a pessoa precisa de você naquele momento: pode ser jogar uma bola, pode ser instalar uma rede no lugar da cama, pode ser um treino de marcha ou pode ser só oferecer um chocolate. Um abraço.

Você cuida quando você olha pra uma pessoa e a vê, por inteira. Cuidar é no detalhe.

Marlise Carvalho, fisioterapeuta, gente que cuida.