Por Carol Sarmento
*** este não é um post sobre comida ***
Hoje, aos quase 42 anos, sou cadinho crítica ao estilo carpe-diem-vida-loka-bora-viver. Por mais que algumas pessoas já tenham achado seriamente que eu vivia nesse lifestyle na minha 3a e 4a década de vida, bem: eu não sou tão inconsequente e boa vivant assim. (Ou não mais).
Por mais que ame viajar – e já tenha feito isso I-N-S-A-N-A-M-E-N-T-E, confesso – a razão dá uns solavancos na emoção, a gente passa a ser mais planejada e planejadora, menos adepta do discurso “a vida é uma só, se joga, minha filha”. E vem uma calma junto com a maturidade, e ela desacelera as urgências, mostra que outras coisas e outras pessoas importam mais do que você pensava, e o ritmo muda do reggaeton com bastante tequila para um blues com uma tacinha de vinho. Umazinha só.
Hoje foi um dia especialmente pesado no trampo. Um casal com casamento sólido e longevo, vida trabalhada para manter filhos e rotina, os planos feitos de aproveitar a vida a partir de 2025. Com viagens internacionais marcadas, calendário feito direitinho. A primeira trip seria pra Tailândia, que maneiro comer pad thai!
Mas aí vem a doença grave, aquela que manda metástase e também manda ultimatos, que lembra que pode não haver nem o 7 de setembro, o Natal, quiçá a viagem do Sudeste Asiático. Que te dá um cruzado de direita, um upper e um jab e – PAW! – nocaute nos planos.
Ver a frustração gigante ali naqueles pares de olhos me doeu na alma. Doeu na alma da equipe que se reuniu no momento interdisciplinar para alinhar as condutas e os objetivos do time. Doeu e marejou a gente ao pensar, juntas, como estamos vivendo a vida de maneira a equilibrar responsabilidades, sonhos, vontades e finitude.
Fato é que me dei um momento carpe diem bem agora, pra me acarinhar a alma e me lembrar que existe sabedoria sim em buscar esse caminho do meio.
Entre aproveitar o momento, viver pro hoje, no regreats!, “não é só boleto” misturado com “só se vive uma vez”, achar o tom e o tempero para não passar tanta vontade, viver bons e únicos momentos e tirar os sonhos do papel é desafio de gente grande. A vida, ela sim, independente disso, segue urgindo e se declarando sopro, ligeira e curta demais.
(Não falei que não era sobre comida?)