Cuida

Sobre poder pensar em propósito na lida

Por Carol Sarmento

Estou lendo esse livro pra tentar entender melhor sobre como viver e chegar inteira no final da história. Ver alguém que a gente ama assim, no final da vida, faz a gente questionar todos os porquês de viver. Todos os motivos de existir. A razão de estar e permanecer”.

Essa prosa se deu à beira de um leito de uma mãe idosa, amada, cuidada. No final da vida, com a filha ao lado, segurando a mão, a barra e a emoção a cada vez que ela despertava – o que já era raro nos últimos tempos.

A mãe, mesmo partindo, estava bem: confortável, agradável, cheirosa, boquinha hidratada que mandava beijos nos instantes de sintonia, mais caidinha nos outros minutos. Sem dor, sem falta de ar. E a filha: vendo tudo ao redor, buscando uma tábua flutuante para se agarrar e dar conta de estar ali, naquele momento que parecia uma tempestade de alto-mar, buscando as respostas para o que estava agoniando a alma.

Difícil saber COMO e SE quem a gente cuida alcançou esse tal propósito de viver durante sua trajetória, né? Eu mesma penso nisso muito, quase todos os dias, mas tentando olhar para mim e para como viver de maneira a estar integra, missão cumprida, tarefa concluída, “ihulll, cheguei lá!” quando se encerrarem meus dias. De poder olhar o caminho e falar: teve propósito, sei porque estive aqui na vida.

Sempre digo que somos sortudos em cuidar de gente. Cada história, cada prosa, cada troca, cada coisa que a gente ouve e presencia são oportunidades para gente parar, pensar, refletir e olhar pra dentro, a fim de buscar as respostas que chacoalham e reverberam na caixola.

Saio de um momento assim mais pensativa que o habitual. E se escrevo, se compartilho, se causo algum peteleco em quem leia, talvez seja uma pequena parte do que desejo: fazer a gente pensar sobre os porquês de estar aqui, de fazermos o que fazemos e de cuidar de gente.

Que sorte ver essas cenas e pensar sobre. Que sorte!

, ,