Por Alyssa Miranda
De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), estima-se que o Brasil registrará anualmente mais de 45 mil novos casos da doença no próximo triênio, entre 2023 e 2025. Nos últimos anos, cada vez mais tivemos notícias sobre personalidades do mundo do entretenimento e do esporte e sua trajetória diante do câncer de cólon e reto – também conhecido como câncer de intestino. A morte do ator Chadwick Boseman, que interpretou o Rei T’Challa em Pantera Negra, pegou todos de surpresa. Afinal, o ator tinha apenas 43 anos e parecia ter ótima saúde. O rei Pelé morreu apenas um ano após o diagnóstico, aos 82 anos. A cantora Preta Gil, que descobriu precocemente um tumor e atualmente está em tratamento, falou abertamente sobre o diagnóstico e sua história, o que aumentou o número de buscas na internet sobre o assunto. Tal atitude é extremamente positiva para desestigmatizar a doença e promover a necessidade de realizar exames preventivos.
O câncer de intestino é uma doença prevalente e, se não detectado no início, tem alta taxa de letalidade. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de cólon e reto ocupa a terceira posição entre os tipos de câncer mais frequentes no Brasil. Sua incidência está aumentando globalmente, inclusive em pessoas mais jovens. Essas diferenças se devem a variações de dietas, exposição ambiental, economia/renda, além de baixas taxas de rastreio que são impostas a um contexto de suscetibilidade variável.
O câncer de cólon e reto se desenvolve, em sua grande maioria, a partir de pólipos intestinais. Os pólipos são lesões benignas, que crescem na parede do cólon e, quando associados a modos de vida não saudáveis e predisposição genética, podem transformar-se em câncer ao longo do tempo. Assim, intervenções que promovam a redução da exposição aos fatores de risco para o câncer colorretal podem diminuir o número de novos casos.
Quando falamos em fatores de risco para doenças (qualquer que seja ela!), temos dois tipos: os não modificáveis, que dizem respeito a herança genética, sexo, idade, etnia; e os fatores de risco modificáveis, que têm relação com hábitos, práticas em saúde e escolhas que fazemos todos os dias. Não conseguimos intervir sobre os fatores de risco não modificáveis, mas podemos mudar a história e a incidência de muitas doenças quando entendemos que a chave para diminuir nosso risco e viver mais e melhor está em intervirmos sobre os fatores de risco modificáveis. Percebe o raciocínio?
Olhando para o câncer colorretal, os fatores de risco não modificáveis são: idade (maior incidência entre 40 e 50 anos de idade); síndromes hereditárias (as mais comuns são a polipose adenomatosa familiar e a Síndrome de Lynch); história familiar da doença; ser portador de doenças inflamatórias intestinais. Já os principais fatores de risco modificáveis são: obesidade, sedentarismo, má alimentação (rica em comidas processadas e carne vermelha em excesso; pobre em frutas e vegetais e fibras), álcool e tabaco.
As entidades de saúde recomendam triagem por exames como pesquisa de sangue oculto nas fezes e colonoscopia ou retossigmoidoscopia a partir dos 45 anos de idade (embora a OMS recomende a partir dos 50), ou antes em caso de histórico pessoal ou familiar de câncer de intestino, de doenças inflamatórias do intestino ou síndromes genéticas, como a de Lynch, como forma de rastreamento e/ou na presença de sinais e sintomas, visando o diagnóstico precoce. E é válido lembrar que a colonoscopia é o exame padrão ouro, e permite diagnóstico e retirada de pólipos que podem desenvolver câncer: é resolutiva e salvadora!
A doença inicial causa pouco ou nenhum sintoma, por isso a importância dos exames preventivos e de rastreio. Já a doença avançada pode causar sintomas como perda de peso, alteração do hábito intestinal, fraqueza, mal estar e dor abdominal.
Agora, reflita: apenas 5 a 10% dos cânceres de intestino são causados por aspectos hereditários, o que significa dizer que mais de 85% são causados por fatores de risco adquiridos que levam ao desenvolvimento de uma doença. O que, então, os fatores de risco modificáveis têm em comum com os fatores de risco adquiridos? TODOS SÃO ESCOLHAS. HÁBITOS. NOSSAS PRÁTICAS DO DIA A DIA.
Dessa forma, para prevenir a doença é importante mudar hábitos de vida. Fazer boas escolhas como: praticar exercício físico, manter uma dieta rica em frutas, vegetais e fibras, evitar alimentos processados, reduzir o consumo excessivo de carne vermelha, bem como eliminar o consumo de bebida alcoólica e cigarro.
Para mudar hábitos é necessário esforço, e esse esforço é TODO DIA. Precisa ser repetido, até que suas ações se tornem automáticas a ponto de se transformar em boas escolhas de cuidado diárias.
Cuidar da nossa saúde sempre vale a pena!
Se você quiser se aprofundar no assunto, ou conhecer melhor os dados citados nesse texto:
Para ler:
Anticâncer, de David Servan-Schreiber, Editora Fontanar
Vencer o Câncer de intestino, reto e canal anal, de Fernando Maluf e Abraão Dornellas – Instituto Vencer o Câncer – download aqui
Falando sobre Câncer de Intestino, do Instituto Nacional do Câncer – download aqui
Para seguir:
Lead from Behind é uma ONG lançada em 2022 para informar ao público que o câncer de cólon é uma doença que pode ser evitada. Com a participação de famosos como Ryan Reynolds e Terry Crews mostrando, de maneira divertida, que a maneira mais eficaz de prevenir ou detectar a doença precocemente é fazer exames regulares.
Site: https://leadfrombehind.org/
Instagram: @leadfrombehind
Para ouvir:
Podcast Segredos de Família – Hugo e o câncer colorretal – genomaUSP
Podcast Rádio Cancer Center – Episódio #36 – Saiba como se prevenir contra o câncer de cólon e reto