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Hipertensão: doença da vida moderna

Por Janaína Garcia

Hoje, 26 de abril, é o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial. O controle da Hipertensão Arterial (HA), conhecida popularmente como pressão alta, é um desafio mundial. As razões para o aumento da incidência e prevalência de hipertensão são múltiplas. Existe uma predisposição genética importante, porém, sabe-se que males da modernidade, como obesidade, sedentarismo, tabagismo, ingestão excessiva de sal e álcool, estresse, são fatores associados para o avanço da doença. 

No Brasil, a HA atinge cerca de 32,5% (36 milhões) de indivíduos adultos. Na faixa etária após os 60 anos, esse percentual sobe para 65%. No primeiro relatório sobre o impacto da hipertensão arterial, a Organização Mundial da Saúde alerta que quase metade dos pacientes não têm conhecimento de que sofrem dessa condição potencialmente fatal, e mais de 80% não estão recebendo o tratamento necessário. A ausência de tratamento adequado pode levar a sérias complicações, como acidente vascular cerebral (AVC), infarto, insuficiência cardíaca e doença renal crônica, entre outros problemas de saúde. O estudo também destaca que mais de 3/4 dos adultos hipertensos vivem em países de renda média e baixa. 

Esse relatório, divulgado durante a 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), revela que o Brasil tem uma taxa de pacientes hipertensos superior à média global, que varia entre 30% e 40%. Aqui, 42% das pessoas com idades entre 30 e 79 anos sofrem de hipertensão. Destas, 67% foram diagnosticadas, 62% estão em tratamento, e apenas 33% conseguiram controlar a condição. Apesar de uma diminuição nos casos descontrolados desde os anos 2000, o relatório alerta que o progresso não foi suficiente. Em um cenário ideal, até 2040, seria possível evitar 365 mil mortes no Brasil. O principal fator de risco no país é o sedentarismo, afetando 47% da população acima dos 18 anos, seguido pela obesidade, que atinge 22% na mesma faixa etária.

Causas e diagnóstico da hipertensão arterial

A hipertensão arterial pode ser primária, quando é geneticamente determinada, ou secundária, quando decorre de outros problemas de saúde, como doenças renais, da tireoide ou das suprarrenais, por exemplo. É fundamental diagnosticar a origem do problema, para que seja introduzido o tratamento adequado.

Não existe uma causa única para a hipertensão arterial. Por outro lado, existem diversos fatores que de forma isolada ou em associação podem levar um indivíduo a se tornar hipertenso. Entre esses fatores, encontram-se: história familiar de hipertensão (baseada em fatores genéticos transmitidos por gerações), idade (quanto mais idoso, maior a chance de ser hipertenso), obesidade, sobrecarga de sal na dieta, sedentarismo (exercícios físicos são preventivos!), alcoolismo e fatores socioeconômicos (pobreza, violência urbana, baixo grau de escolaridade, etc.) que interferem no acesso aos serviços de saúde. 

Ela se inicia, na grande maioria das vezes, entre 30 e 40 anos nos homens e 40 e 50 anos nas mulheres. Para os jovens abaixo dos 30 anos, recomenda-se a verificar anualmente a pressão arterial, e a cada 6 meses para aqueles acima dos 30 anos, especialmente para pessoas obesas, idosas e quem tem história familiar de hipertensão arterial.

Uma pessoa é considerada hipertensa quando a pressão sistólica (também conhecida como máxima) apresenta valores iguais ou maiores que 140 mmHg, e a diastólica (ou mínima) é igual ou maior que 90 mmHg, de forma persistente, em pelo menos duas ou mais medições diferentes ao longo do dia. A pressão máxima ou sistólica corresponde à contração do coração (movimento de sístole), e a pressão mínima ou diastólica corresponde ao movimento de diástole, quando o coração relaxa. 

O diagnóstico pode variar conforme os momentos em que surge a hipertensão. Quando os valores se alteram durante a consulta médica e também em casa, o paciente é diagnosticado hipertenso.  Na chamada Hipertensão do Jaleco Branco,  só há mudanças na pressão durante a conversa com o médico e os índices são normais em casa. Já nos casos denominados Hipertensão Mascarada, essa alteração ocorre somente fora do consultório. Nessas situações mais imprecisas, o diagnóstico deverá ser confirmado por meio do exame MAPA (monitorização ambulatorial da pressão arterial) ou do exame MRPA (monitorização residencial da pressão arterial), conforme avaliação do seu médico. 

Sinais e sintomas da hipertensão arterial

A hipertensão arterial costuma ser uma doença silenciosa e, geralmente, não apresenta qualquer sinal ou sintoma, o que contribui para o atraso no diagnóstico. A pressão arterial pode variar durante o dia. A tendência é que ela diminua quando estamos dormindo e aumente quando realizamos esforço físico. Tais situações não querem dizer que você seja necessariamente um hipertenso, mas o acompanhamento médico é sempre importante. Nos casos graves (valores muito elevados de tensão arterial repentina ou sustentadamente elevados), manifestam-se alguns achados:

  • Cefaleia (dor de cabeça);
  • Confusão mental;
  • Alterações visuais;
  • Hematúria (urina com sangue);
  • Epistaxe (sangramento nasal);
  • Edema (‘inchaço’) dos membros inferiores.

Relação entre hipertensão e doenças renais 

Os rins são os principais responsáveis pelo processo de filtração das toxinas e líquidos em excesso no sangue. Para o cumprimento eficaz das suas funções, é essencial a sua adequada irrigação vascular. Ao longo dos anos, o controle ineficaz da pressão arterial pelo paciente hipertenso leva ao estreitamento e enfraquecimento das artérias renais. Com o dano dessas artérias, há redução do fluxo sanguíneo que circula nelas, comprometendo o aporte de sangue ao tecido renal. É importante lembrar que a hipertensão arterial pode ser causa e consequência da doença renal. O aumento dos níveis pressóricos pode levar, por si só, à doença renal, contudo a própria doença renal pode também causar hipertensão arterial.

Independentemente da causa inicial do dano renal, nossos rins são capazes de manter suas funções por meio de mecanismos compensatórios multifatoriais e inter-relacionados. Essas adaptações podem estar envolvidas na própria progressão da doença renal crônica, como ocorre, por exemplo, com as alterações hemodinâmicas secundárias à perda de massa glomerular, levando à hipertrofia e à hiperfiltração dos néfrons, que são as unidades funcionais dos rins. Com o passar do tempo, essas respostas pró-inflamatórias e fibróticas não devidamente tratadas resultam em proteínas na urina (proteinúria) e, por fim, levam ao processo de glomeruloesclerose progressiva e doença renal crônica. 

A Nefrologia é a especialidade médica dedicada ao diagnóstico e tratamento clínico das doenças do sistema urinário, principalmente relacionadas ao rim. O médico especializado nas doenças do sistema urinário chama-se nefrologista. Para avaliar o comprometimento dos rins em decorrência de hipertensão arterial, recorre-se frequentemente a meios complementares de diagnóstico e terapêutica (incluindo análises de sangue e urina, ecografia e doppler renal). Por isso, é importante a avaliação com médico especializado em doenças renais.

Tratamento da hipertensão arterial 

Atualmente, dispomos de duas estratégias para controle adequado da hipertensão arterial: tratamento não farmacológico e farmacológico. Na primeira estratégia, são indicadas mudanças no estilo de vida do paciente, que incluem perda de peso, prática de atividades físicas, diminuição na ingesta de sal e de álcool. Na segunda, prescrevem-se medicamentos em forma isolada (monoterapia) ou em forma de associação. Existem diversas classes de anti-hipertensivos disponíveis, com objetivos específicos. 

A OMS recomenda o início do tratamento farmacológico anti-hipertensivo em pessoas com diagnóstico confirmado de hipertensão e pressão arterial sistólica ≥140 mmHg ou pressão arterial diastólica ≥90 mmHg. O início do tratamento farmacológico da HA deve se dar no prazo máximo de quatro semanas após o diagnóstico. Se a pressão arterial estiver elevada (p. ex., pressão sistólica ≥160 mmHg ou pressão diastólica ≥100 mmHg) ou se houver indícios de lesão de órgão-alvo, o tratamento deve ser iniciado imediatamente.

Para os hipertensos em geral, aceitam-se níveis abaixo de 140/90 mmHg. No entanto, existem situações particulares em que se preconizam valores abaixo de 130/80 mmHg, na dependência das comorbidades do paciente. Assim, é necessário que seu médico analise a situação de forma individualizada para que seja proposto um tratamento adequado à sua situação clínica e meta terapêutica. 

Adotar um estilo saudável de vida é fundamental para prevenir a doença e também para o tratamento de hipertensos. Um ponto de destaque é a ênfase na dieta hipossódica (5g de cloreto de sódio por dia) e na atividade física apropriada (150 minutos / semana) para controle pressórico, respeitando a tolerância cardiovascular individual. Faz-se necessário lembrar que os brasileiros ingerem em média 12g de cloreto de sódio ao dia, mostrando a importância de uma boa orientação com relação ao uso do sal. 

Prevenção da hipertensão arterial e suas complicações 

A melhor forma de retardar o surgimento da hipertensão arterial ou prevenir complicações associadas ao seu controle inadequado é adotando medidas e comportamentos saudáveis. Entre eles:

  • Monitorar regularmente a pressão arterial e, se valores gerarem dúvida, consultar o(a) médico(a);
  • Individualizar o tratamento anti-hipertensivo e considerar a presença e tratamento das comorbidades
  • Não negligenciar as mudanças no estilo de vida – sua aplicação é sempre benéfica (e como dizemos no Cuida, também é remédio!!!); 
  • Adotar uma dieta pobre em sal e gorduras;
  • Evitar os ultraprocessados – como temperos e molhos prontos, salgadinhos, embutidos e enlatados, entre outros;
  • Praticar exercício físico regularmente;
  • Manter um peso saudável; em caso de excesso/ obesidade, a perda ponderal deve ser monitorizada por profissional;
  • Cessar o tabagismo;
  • Evitar bebidas alcoólicas;
  • Evitar situações que potencializem o estresse e a ansiedade.

Consulte, sempre que possível, um(a) médico(a) regularmente para confirmar se os valores da pressão arterial estão dentro da normalidade para a faixa etária e gênero. Serão necessários história clínica minuciosa e exame físico na avaliação básica da doença em fase inicial e no seu seguimento posterior. Cuide-se bem, você merece!

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