Por Alessandro Kerkovsky
Se hoje me perguntassem por que escolhi o Serviço Social, certamente não saberia a resposta. Acredito que existem escolhas que a vida faz por nós e talvez essas sejam as melhores. Geralmente elas chegam quando não pensamos em carreira, sucesso ou remuneração. Começam com um amor genuíno, cheio de entusiasmo que vai amadurecendo conforme permitimos que tudo isso se alimente dentro de nós.
Há um pouco mais de 12 anos atuo como Assistente Social na área da saúde, mais especificamente na oncologia. Falar isso numa roda de conversa, entre pessoas que não são do meu convívio, sempre causa um olhar de piedade, já que trabalhar com pessoas em tratamento de câncer faz com que todos pensem em tristeza, sofrimento e morte.
Descobrir uma doença grave que ameaça a continuidade da vida é sempre um susto acompanhado de muitas incertezas, mas poucos imaginam que também a vida se mostra mais pulsante, mais urgente e muito mais bonita. O desejo de cura, de retomar projetos de trabalho e convívio familiar sempre estão nas conversas de pacientes em tratamento e a grande parte deles desejam muito viver, e viver uma vida de qualidade. Nos deparamos com arrependimentos, com frustrações, com sofrimento e também, inevitavelmente, com a morte.
Nada disso se aprende na faculdade. Eu, por exemplo, não tive uma disciplina que me ensinasse as técnicas de como ler os olhos, observar gestos, compreender que nem toda intervenção vai exigir o conhecimento das teorias de vários autores. Não aprendi como lidar com sofrimento social tão latente. Nu! Cru! Cheio de necessidades que causam sofrimento sem medicação eficaz na prescrição. Não tenho manual que diz como ser indiferente numa sexta-feira ao pedido de paciente de 46 anos tetraplégico, traqueostomizado para fazer uma chamada de vídeo com sua família, que o faz rir e chorar ao mesmo tempo. Já imaginaram como alguém consegue entender as palavras de uma pessoa incapaz de falar, à distância? Só o amor faz isso!
Na cama ao lado, uma família inteira se despedindo do patriarca antes de começar uma sedação paliativa. Carinho em gestos, carinho em palavras de amor.
Os céticos dirão: “Nossa, Alessandro, que triste e doloroso é o seu trabalho!”. Mas tudo que eu consigo enxergar é amor! O amor puro, imperfeito, frágil e ao mesmo tempo avassalador. Amor que alivia a preocupação de quem está partindo, que conforta quem fica e sustenta quem cuida.
Ser assistente social é escutar além de ouvir, é fazer conexões cerebrais antes mesmo do seu interlocutor terminar de apresentar soluções. É orientar. É encaminhar. É acolher. É ser impactado todos os dias pela dura realidade que bate à porta. É se reinventar. É conviver muitas vezes com a não valorização do trabalho. É driblar os desafios. É manter-se firme no propósito de fazer o melhor.
E assim vamos seguindo. Acumulando lembranças de ciclos que se fecham e outros que começam.
Nem sempre somos autores. Muitas vezes somos apenas organizadores de histórias de vidas reais.