Cuida

Aquela conversa (nada fácil) sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis

Por Ana Carolina D’Ettores 

Na última segunda-feira, 4 de setembro, foi o Dia Nacional da Saúde Sexual e, hoje, 6 de setembro, é celebrado o Dia do Sexo. Esta é uma excelente oportunidade para conversarmos sobre um tema que, para muitos, ainda é revestido de tabu, medo, preconceitos e desconhecimento. No entanto, também não devemos resumir esse dia apenas ao lado lúdico e prazeroso do sexo; é necessário conversar sobre o que pode nos garantir uma vida sexual saudável, assegurar nossa liberdade e promover o respeito aos nossos parceiros. Essa é a verdadeira definição de sexo seguro. 

Na minha vivência como infectologista, percebo que um grande número de pacientes chega para a consulta sem nunca antes ter conversado abertamente com um médico sobre saúde sexual e Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Até as informações mais simples são desconhecidas pela grande maioria das pessoas. Quando falamos em IST/HIV, temos sempre que falar sobre uma estratégia combinada, que consiste na associação de diferentes ações preventivas focando na saúde integral do indivíduo, esteja ele vivendo com HIV ou não.  

Prevenir é se preparar para um cenário antes que ele aconteça. No caso das doenças sexualmente transmissíveis, não é diferente. Dentro da prevenção combinada, temos como estratégia os programas educacionais sobre saúde sexual e HIV para tirar dúvidas e promover conhecimento, uma vez que a desinformação representa um grande risco para a saúde. Não conversar sobre o assunto não te isenta de estar sob o risco de se infectar. Ser uma pessoa cis hetero também não previne as IST. As palavras-chave nesse caso são: diálogo e prevenção. E elas caminham juntas. A nossa mandala de cuidado é composta por diversas intervenções, algumas muito simples como o uso de preservativos feminino/masculino e gel lubrificantes para todas as práticas sexuais de contato, além da testagem rotineira para aqueles que são sexualmente ativos. Usamos o termo mandala para ressaltar que todas as intervenções estão interligadas e são complementares.

Os números mostram que a grande maioria dos portadores de IST são assintomáticos, apesar de transmissores. Para quebrar a cadeia de transmissão é necessário tratar os infectados e imunizar a população. Sim, existem vacinas que podem garantir a sua liberdade sexual deixando sua vida mais segura e, portanto, mais prazerosa. Entre as tantas vacinas que temos à disposição atualmente, existem as contra HPV, hepatites virais e meningites. Também precisamos reforçar a necessidade do tratamento das pessoas que vivem com HIV, uma vez que hoje já sabemos que INDETECTÁVEL = INTRANSMISSÍVEL. Não podemos, entretanto, deixar que toda a responsabilidade da quebra da cadeia de transmissão fique nas costas das pessoas que vivem com HIV. 

Um dos grandes aliados para barrar a transmissão entre as pessoas com maior risco de contato com HIV é a Profilaxia Pré-Exposição, ou, mais comumente chamada de PrEP.  A PrEP é uma das formas mais eficazes de evitar a infecção pelo HIV. Se trata de uma combinação de medicamentos antirretrovirais que reduzem as chances de uma pessoa, que teve contato com o vírus, se infectar. Existe também a PEP, ou Profilaxia Pós-Exposição ao HIV, que é uma medida preventiva de urgência para aqueles que, de alguma forma, foram expostos ao vírus em relações consentidas, violência sexual e contato com o sangue no ambiente ocupacional. São inúmeras as possibilidades preventivas e, certamente, existe uma adequada à sua realidade, seja ela qual for.  

E o mais importante é garantir que todos, mas principalmente os que estão em situação de maior vulnerabilidade e exposição às IST, tenham acesso ao sistema de saúde, e que esse acesso seja justo e respeitoso. Não podemos reproduzir dentro do consultório preconceitos com os quais lidamos diariamente na sociedade. Todos nós precisamos ter conversas francas e regulares com os profissionais de saúde sobre a nossa vida sexual. Não existe certo ou errado quando o assunto é sexo. Existe aquilo que funciona e o que não funciona para a prática sexual de uma pessoa. 

Meu conselho é: viva com plenitude, mas nunca esqueça que liberdade envolve responsabilidade e cuidado, com você e com quem você se relaciona.

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